
Horas mortas… curvadas aos pés do Monte
A planície é um brasido… e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol postonte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
-Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!















Meio-dia: O sol a prumo cai ardente,/ doirando tudo. ondeiam nos trigais d’oiro fulvo, de leve… docemente…
As papoilas sangrentas, sensuais…/andam asas no ar; e raparigas,/flores desabrochadas em canteiros,/
mostram por entre o oiro das espigas/os perfis delicados e trigueiros…






Tudo é tranquilo, e casto, e sonhador… /olhando esta paisagem que é uma tela /de Deus, eu penso então: Onde há pintor, onde há artista de saber profundo,/que possa imaginar coisa mais bela,/ mais delicada e linda neste mundo?!
[ Flor Bela Espanca]



